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VACINA E VACINAÇÃO

Atualizado: 22 de fev. de 2021


DATA: 09/02/2021 - As palavras vacina e vacinação (administração de vacina) vem do termo em latim Variolae vaccinae, nome científico dado por Edward Jenner ao vírus que causa a varíola das vacas. Em homenagear a Jenner, em 1881, Louis Pasteur deu este nome, vacina, para as novas inoculações protetoras que estavam em desenvolvimento.


HISTÓRIA

Antes das vacinas, a varíola era prevenida com a infecção propositada do vírus da varíola humana, num processo que recebeu o nome posterior de variolação. Os primeiros processos desses que se tem notícia são da China no século X, com registros documentais a partir do século XV, onde utilizavam um processo de insuflação nasal, ou seja, a varíola humana em pó era soprada nas narinas de quem se pretendia imunizar. Entre os séculos XVI e XVII diversos relatórios sobre esta prática chinesa chegaram a comunidade científica de Londres.

Ilustração da Insuflação Nasal Chinesa.

Por volta de 1760, Edward Jenner (britânico) percebeu que os que trabalhavam com leite de vacas eram de certa forma imunes a varíola humana (muitas vezes fatal ou desfigurante), porque de algum modo já haviam tido a varíola bovina, que é mais suave quando afeta seres humanos. Então em 1796, ele retirou material da ferida da mão de uma ordenhadora de leite, que estava com varíola bovina, provocou uma ferida no braço de um menino de 8 anos e inoculou o material retirado da ordenhadora. Após 6 semanas, inoculou o garoto com varíola humana e viu que ele não pegou a doença.

Jenner vacinando James Phipps, o menino de 8 anos.

Jenner continuou suas pesquisas e estudos, então em 1798, divulgou que a vacina era segura para ser administrada em crianças e adultos, podendo ser transferida de braço a braço, diminuindo a dependência de insumos de vacas infectadas. Com a comprovação de que a vacinação, a partir do vírus da varíola bovina, era mais segura do que a inoculação da varíola por meio do vírus da varíola humana, a variolação foi proibida na Inglaterra em 1840.

Louis Pasteur (francês) foi o grande expoente de uma segunda geração de vacinas na década de 1880, pioneiro da ideia de que existem microrganismos (vírus e bactérias) que são responsáveis por causar diversas doenças, ele desenvolveu vacinas contra o cólera e o antraz, sendo que, no final do século XIX, as vacinas já eram vistas como objeto de prestígio nacional, inclusive com a adoção de leis de vacinação obrigatória em alguns países.

Pasteur e a Teoria Microbiana.

No século XX vimos então o surgimento de várias vacinas muito bem sucedidas contra difteria, sarampo, caxumba e rubéola, destacando a criação de uma vacina contra a pólio, na década de 1950, e a extinção da varíola, entras as décadas de 1960 e 1970. Destaque para a figura de Maurice Hilleman (norte-americano) desenvolveu 8 vacinas, das em geral 14 que compõem os calendários de vacinação, sendo elas, sarampo, caxumba, hepatite A, hepatite B, catapora, meningite, pneumonia e a bactéria Haemophilus influenzae.

As vacinas foram ficando cada vez mais comum na população e se tornaram garantia de proteção contra diversas doenças.


TIPOS

Atualmente as vacinas são produzidas com microrganismos (vírus e bactérias) mortos, inativos ou atenuados, ou por meio de substâncias purificadas, derivadas destes organismos. Temos também as vacinas sintéticas produzidas com peptídeos sintéticos, carboidratos ou antígenos (substância que desencadeia a produção de anticorpos). Todas tem por objetivo reduzir o risco de provocar a doenças enquanto promovem uma resposta imunológica saudável no sistema do vacinado.

Vacinas e seus Tipos.

Seguem alguns tipos de Vacinas:

• Inativada - Vacinas que contém microrganismos que foram inativados (ou seja, tornados incapazes de causar doenças) por meio de: agentes químicos, calor, radiação ou antibióticos.

Exemplos: Gripe, Cólera, Peste Bubônica, Pólio, Hepatite A e Raiva.

• Atenuada - Vacinas que contém microrganismos vivos (em sua grande maioria vírus), porém atenuados. Tais microrganismos são produzidos sob condições controladas que desativam suas capacidades nocivas, ou por meio de organismos estreitamente relacionados, mas que são menos perigosos a saúde, com o objetivo de produzir uma ação imunizante.

Exemplos: Febre Amarela, Sarampo, Catapora, Caxumba, Rubéola e Tifo (bacteriana).

• Toxoide - Vacinas que contém compostos tóxicos inativos, que também causam as doenças, ao invés do uso direto dos microrganismos associados a estas doenças.

Exemplos: Soro Antiofídico, Tétano e Difteria.

• Subunidade - Vacinas que ao invés de utilizar os microrganismos completos para gerar imunidade, se utilizam de partes deles, como um subunidade proteica, para gerar resposta imune.

Exemplos: Hepatite B (produzida através das proteínas que formam a superfície do vírus, que são retiradas do soro sanguíneo de pacientes crônicos) e HPV (produzida a partir da membrana proteica que protege o DNA do vírus).

• Conjugada - Vacinas produzidas a partir da ligação entre o revestimento externo de uma bactérias a uma proteína (toxina), esta união produz uma melhor resposta imune do que apenas utilizando o revestimento externo.

Exemplos: Haemophilus influenzae tipo B.

• Valência - Vacinas que podem ser produzidas por meio de um único antígeno ou microrganismo, são as chamadas monovalentes (ou univalentes), ou aquelas produzidas por meio de dois ou mais antígenos ou microrganismos, as chamadas polivalentes (ou multivalentes).

Exemplos: Vacina Pentavalente (que é eficaz contra 5 (penta = cinco) doenças: Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B e Meningite por Haemophilus influenzae tipo B).

• Heterotípica - Chamadas também de Heterólogas ou Jennerianas (de Edward Jenner), são aquelas produzidas por meio de compostos vindo de outros animais, que não são incapazes de causar a doença ou que produzem apenas sintomas leves.

Exemplos: a pioneira Vacina de Edward Jenner (protegia contra a varíola humana, mas era produzida por meio da varíola bovina) e modernamente a BCG (produzida da bactéria de vacas, Mycobacterium bovis, que protege contra a tuberculose em humanos).

• Experimental - Vacinas modernas, em fase atual de desenvolvimento, e de uso, portanto, experimental. Seguem alguns exemplos:

DNA ou RNA - Vacinas produzidas através do material genético (DNA ou RNA) processado de microrganismo, vírus ou bactérias, que introduzido no organismo do vacinado é capaz de ser reconhecido por suas células e desencadear nelas a produção de substâncias, que normalmente seriam produzidas pelos microrganismos doadores desse material genético, e que são capazes de gerar uma resposta imune do organismo e criar uma memória imunológica. Temos como exemplos algumas das vacinas recém-produzidas contra a COVID-19.

Células Dendríticas - Vacinas produzidas a partir de células dendríticas já combinadas com antígenos, com o objetivo de estimular uma resposta do sistema imunológico, temos como exemplos, as vacinas em testes para tratamento de tumores cerebrais e de melanomas (câncer de pele) malignos. As células dendríticas constituem o sistema imunológico, sua função é fagocitar os agentes causadores das doenças, ou seja, elas digerem estes agentes, os processam em seu interior, e eliminam substâncias que ajudam as demais células do sistema imune a produzir uma resposta.

Vetor Recombinante - Vacinas produzidas a partir da combinação da fisiologia (estrutura) de um microrganismo com o DNA do microrganismo causador da doença, desse modo a imunidade pode ser criada contra doenças que possuem processos infecciosos complexos, como o Ebola.

Receptor de Célula-T - Vacinas produzidas a partir de substâncias (peptídeos) que formam os receptores, estruturas que constituem as células-T (ou linfócitos-T), células presentes no sistema imunológico e que são responsáveis pela eliminação dos antígenos. Observou-se que estes péptidos estão relacionados a produção de substâncias que ativam as células melhorando sua resposta imune. Estão em desenvolvimento vacinas deste tipo contra Dermatite Atópica, Estomatite e Febre do Vale do Rift.


PRODUÇÃO

A produção de vacinas requer diversas etapas, a depender de seu tipo. Primeiro é preciso produzir o antígeno (substância responsável pela produção dos anticorpos pelo sistema imune). Os vírus costumam ser cultivados em células primárias (como em ovos de galinhas, por isso algumas vezes perguntam se você é alérgico a ovo antes de aplicar certas vacinas), ou ainda em culturas de células, já as bactérias são cultivadas em biorreatores (aparelhos que garantem o desenvolvimento ideal das bactérias). Em outros tipos de vacinas, substâncias derivadas dos vírus ou das bactérias podem ser produzidas por meio de leveduras, bactérias ou células.


Linha de Produção de Vacinas.

Após a produção dos antígenos nos processos acima, ele é processado e isolado.

Um microrganismo (vírus ou bactéria) pode ser inativado, geralmente sem precisar de processo de purificações, porém os uso de proteínas oriundas de microrganismos, em vacinas com processos de recombinação destas substâncias, são necessários diversos processos, como ultra-filtração e cromatografia em coluna.

As vacinas do tipo conjugadas tem desenvolvimento e produção muito mais difíceis, devido as grandes possibilidades de incompatibilidades e interações desconhecidas entre os antígenos e as demais substâncias envolvidas em sua produção.

No final do processo são adicionados a vacina, conforme a necessidade, adjuvantes (que servem para aumentar a resposta do sistema imune), estabilizantes (que aumentam a vida útil de armazenamento) e conservantes (que possibilitam a utilização de frascos multidose).

Sempre lembrando, que de forma geral nas Ciências, as técnicas sempre estão em constante evolução. Por exemplo, o uso de células de mamíferos para cultivar microrganismo tem se tornado mais interessante se comparado com as culturas em ovos de galinhas, isso por que há maior produtividade e baixa incidência de contaminação.

Acredita-se que a tecnologia de recombinação na produção de vacinas geneticamente destoxificadas cresça frente a produção de vacinas bacterianas que usam toxoides, e que nestas vacinas que se utilizam da combinação, haja uma redução na quantidade de antígenos presentes nelas, gerando assim diminuição nas interações indesejáveis.

EFICÁCIA

Sem sombra de dúvidas, as vacinas são o meio mais efetivo e seguro para se combater e erradicar doenças já descoberto pela humanidade. Obviamente a eficácia de nenhuma vacina é de 100%, isto por que há diversos fatores envolvidos em número igual a variedade de seres seres humanos. O que torna cada ser humano único afetará a ação de uma vacina, por meio de falhas do sistema imune do vacinado, provocadas por fatores internos como doenças preexistentes (diabetes, câncer, HIV, doenças autoimunes, etc.), presença no organismo de variantes ainda não descobertas do causador da doença, uso de esteroides sintéticos, etnia, idade, genética, entre outros fatores.

Expectativa de Vida (Reino Unido) após Vacinação.

Estes fatores podem fazer com que o sistema imune não responda a vacina, ou que responda de forma ineficientes, de forma tardia ou com número inscientes de células do sistema imune. Para estes casos existem outras ações que podem ser tomadas para aumentar a resposta imune. Porém, até mesmo a imunidade parcial, tardia ou fraca pode atenuar a ação de uma doença, diminuindo os cuidados médicos (como as internações), sequelas e mortalidade.

Há ainda que se considerar fatores externos a própria vacina e aos vacinados, que dizem respeito aos programas de vacinação, como, estabelecimento e manutenção de uma rede física capaz de tornar realidade uma campanha de vacinação e garantir a correta indicação para utilização de uma vacina (armazenamento, aplicação, validade, prazos entre doses, etc.), mapeamento cuidadoso para prever o impacto que uma campanha de imunização terá em uma doença a médio e longo prazo, supervisão prolongada de doenças importantes, com a acompanhamento da introdução de novas vacinas na população, manutenção de altos índices de vacinação, mesmo para as doenças consideradas erradicas.

RETROCESSO

Desde as primeiras campanhas de vacinação há um movimento de críticos as vacinas (no Brasil, em 1904, tivemos a Revolta da Vacina, na qual a população do Rio de Janeiro foi contra a vacinação obrigatória proposta pelo médico e sanitarista Oswaldo Cruz), mesmo que os benefícios superem expressivamente, e sem contestação, os raríssimos riscos de efeitos adversos após a imunização. Os críticos levantam diversas discussões a respeito da moralidade, ética, eficácia e segurança da vacinação. Alguns grupos pseudocientíficos, que usam informações sem qualquer comprovação científica ou meras teorias da conspiração, dizendo que as vacinas são ineficazes ou que os estudos de segurança são mal realizados, grupos religiosos que proíbem a vacinação de seus seguidores, e alguns grupos políticos que se opõem à vacinação obrigatória com base na liberdade individual.

Charge a respeito da Revolta da Vacina (1904).

A Comunidade Científica tem se mostrado preocupada com a desinformações (fakenews) que tem inundado o mundo virtual sobre os riscos das vacinas. O medo é de que haja um aumento nas taxas de infecções que ameassem as vidas das pessoas, neste caso, não só das crianças cujos pais se recusam a vacinar, mas também entre aqueles que não podem ser vacinados (idosos e imunodeficientes) que podem contrair as doenças dos não vacinados, uma vez que não é alcançada a imune de grupo (ou de rebanho).


Protesto Anti-Vacina nos EUA.

Acredita-se que a origem do atual Movimento Anti-Vacina que tem contaminado o mundo, ocorreu em 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield publicou um estudo na revista científica, The Lancet, associando casos de Autismo e a Vacina Tríplice Viral (Caxumba, Sarampo e Rubéola). Em 2011, se descobriu que Andrew Wakefield foi pago para falsificar os dados de sua pesquisa, por advogados que queriam lucrar com processos movidos contra os fabricantes de vacinas. Ele teve sua licença médica cassada, a revista The Lancet teve de se retratar e o estudo foi recolhido. Em 2019, um estudo feito em grande escala concluiu que a Vacina Tríplice não causa aumento no risco de Autismo, mesmo entre crianças suscetíveis.

Porém, os malefícios causados pelo Movimento Anti-Vacina (que usam a pesquisa de Andrew Wakefield até hoje) já haviam se instalado. Os EUA observaram que grande parte dos seus casos de Sarampo que tem registrado vem de pessoas ligadas a este movimento e, consequentemente, tem sido observado um aumento nos casos de perda auditiva permanente e morte causados pela doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) listou, em 2019, a resistência à vacinação como uma das dez maiores ameaças à Saúde Global.

SUCESSO DAS VACINAS

A vacina contra Sarampo, de Maurice Hilleman, salva cerca de 1 milhão de vidas ao ano. Em 1958, existiam cerca de 760 mil casos de sarampo nos EUA, que levaram a 550 mortes. Com as vacinas, os casos foram caindo para um média de 150 caso ao ano, atualmente estão em uma média de 55 casos de sarampo anuais nos EUA. Em 2008, havia 64 casos suspeitos, sendo que 54 deles estavam relacionado a viagens ao exterior. Dos 64 suspeitos, 63 não haviam sido vacinados ou não tinham certeza disso.


Criança Brasileira sendo Vacinada.

Já no Brasil, tivemos em 1990 o último registro de poliomielite, com o ultimo caso endêmico no Peru em 1991. Com isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pólio erradicada das Américas em 1994 e da Europa em 1999, resultado de um programa iniciado em 1985, com a criação de um calendário de vacinação para crianças menores de 5 anos, e acompanhamento dos casos de paralisia em menores de 15 anos, afim de identificar possíveis novos surtos da doença. Em 1988, a OMS deu início uma ação global de extinção da pólio até o ano 2000.

As vacinas têm sido responsáveis pelas erradicação de diversas doenças como Caxumba, Febre Tifoide, Sarampo e Catapora, que hoje são muito menos comuns do que foram a cerca de 100 anos atrás. Temos de lutar para que a população siga sendo vacinada, pois deste modo é pouco provável que uma epidemia destas doenças volte a ocorrer, e muito menos que se espalhe pelo mundo. Este é o resultado da imunidade herdada.

Hoje, por exemplo, a pólio está restrita a algumas partes no interior da Nigéria, Paquistão e Afeganistão, isto por que ainda existem barreiras culturais e a dificuldade dos programas de vacinação em alcançar todas as crianças nestas regiões.


Vacina contra a Covid-19.

O vírus SARS-CoV-2 foi identificado no final do ano de 2019, como agente causador da doença que seria mais tarde chamada de Covid-19. Em 2020, o mundo já estava em uma Pandemia da doença, e acompanhou um aumento no número de casos e mortes, levando a investimentos consideráveis em pesquisas para se desenvolver uma vacina, num dos maiores esforços coletivos da história recente da Ciência, o que culminou, em 2021, no desenvolvimento em inúmeros países de um grande número de vacinas, por diversos institutos e empresas, como umas das nossas principais armas contra essa doença.

O Governo dos Estado de São Paulo já iniciou o seu plano de vacinação contra a Covid-19, em fevereiro de 2021, com a Vacina CoronaVac (desenvolvida numa parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês, Sinovac) e a Vacina da Fiocruz (desenvolvida num acordo entre o Instituto Oswaldo Cruz, a universidade inglesa de Oxford e a empresa de origem sueco inglesa, Astrazeneca), maiores informações a respeito acesse o site do Governo de SP, Vacina Já, <https://vacinaja.sp.gov.br/>


FONTES:

• <https://pt.wikipedia.org/wiki/Vacina> acessível em 10.fev.2021;

• Instituto Butantan <https://butantan.gov.br/> acessível em 10.fev.2021;

• Fundação Oswaldo Cruz <https://portal.fiocruz.br/> acessível em 10.fev.2021;

• Vacina contra Covid-19 (SP) <https://www.saopaulo.sp.gov.br/coronavirus/vacina/> acessível em 10.fev.2021;

• Vacina Já (SP) <https://vacinaja.sp.gov.br/> acessível em 10.fev.2021;

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