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BIG BROTHER E SOCIOLOGIA

Atualizado: 26 de mar.


DATA: 07/02/2024 - O nome Big Brother é inspirado pelo livro chamado 1984 de George Orwell, escritor e jornalista inglês, que conta a história de um mundo totalitário governado pelo Partido, liderado pelo misterioso Grande Irmão (Big Brother) que, por meio de uma vigilância onipresente (o Olho que Tudo Vê), controla a liberdade de pensamento das pessoas.


Cena do Filme "1984" (1956)

Podemos encarar o nosso Big Brother Brasil (BBB) não apenas como um reality show qualquer, mas também como um experimento social que tem como objetivo compreender a natureza humana, já que consiste em trancar um grupo de seres humanos em um espaço fechado e observar como eles se comportam.

Podemos observar o modo de agir dos participantes do programa sobre duas óticas, a primeira delas é a de Thomas Hobbes, filósofo político e teórico social inglês, que tinha uma visão pessimista sobre a natureza humana, para ele o homem era naturalmente mau, e o que limitava seus instintos mais animalescos era o Contrato Social, em que todos concordavam em se submeter um governo (no BBB, o Big Boss, Boninho) que exercia poder e controle, em troca de segurança e ordem social.


Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau

No extremo oposto, podemos olhar com os olhos de Jean-Jacques Rousseau, filósofo, escritor e teórico político suíço-francês, que tinha uma visão otimista da humanidade, para ele os homens nasciam livres, iguais e bons, porém era a vida em sociedade que levava a corrupção de sua natureza por meio das desigualdades, entre fortes e fracos, ricos e pobres (anônimos e famosos, Pipoca e Camarote).

Prevaleceu, ao longo do tempo, a visão de que o homem era um ser mau por natureza, podemos ver isso nos trabalhos de importantes pensadores ao longo da História, como Santo Agostinho, Maquiavel, Nietzsche e Freud.

Porém, no século 20, Rutger Bregman, historiador e jornalista neerlandês, questiona esta visão predominante de que somos todos naturalmente maus, ele argumenta que para nos tornarmos ruins, ou seja, termos um tendência para gerar conflitos, precisamos ser incentivados por meio de agentes externos como prêmios robustos, eliminações, falta de comida e sono, provas de resistência, interações que promovam a discórdia.

Cena do Filme "O Senhor das Moscas" (1963)

Bregman então nos conta sobre o livro O Senhor das Moscas, escrito em 1951 pelo escritor inglês, William Goulden, nele um grupo de crianças fica preso em uma ilha, os garotos tentam se organizar por conta própria mas a natureza selvagem de seus instintos primitivos os leva ao caos. Acontece que Bregman encontrou uma notícia, num jornal australiano de 1966, que falava sobre um grupo de meninos que também ficaram presos numa ilha, porém após 15 meses eles foram resgatados, tendo durante este tempo dividido as tarefas e colaborado uns com os outros. O que nos faz questionar se o homem é mau por natureza.

Ele lançou olhares sobre alguns experimentos da Psicologia Social.

A Prisão de Stanford de Philip Zimbardo, experimento em que voluntários foram aleatoriamente designados para os papéis de guardas e prisioneiros em uma simulação de prisão, no entanto, o experimento precisou ser interrompido após apenas 6 dias devido ao comportamento abusivo e degradante dos guardas em relação aos prisioneiros.

O Experimento de Obediência de Stanley Milgram, o voluntário assumia o papel de professor e era instruído a administrar um choque elétrico (que era falso) cada vez que o aluno (um ator contratado) errasse, foi observado um aumento no nível do choque a cada erro cometido.

O caso Kitty Genovese, uma garota nova iorquina que foi esfaqueada na frente de 38 testemunhas oculares que supostamente não fizeram nada para impedir o crime.


Cena do Filme "O Experimento de Aprisionamento de Stanford" (2015)

Todos esses experimentos seriam demonstrações de que o ser humano é um ser ruim por natureza, mas o que Bregman argumenta é que eles justamente provam o seu ponto de que para se tornar mal o ser humano precisa de um incentivo.

Então, diante da visão de Bregman, sem a interferência de agentes externos para geração de conflitos os realities shows, como o BBB, correriam em plena paz e tranquilidade, e nós, vivendo nossas vidas cotidianas, estaríamos a salvo, mas sabemos como não é bem assim.

Acontece que na vida real influenciamos uns aos outros, pesquisas demonstram que quem fala primeiro em um reunião tende a ver sua opinião prevalecer sobre as demais por conta do Efeito Cascata, ou seja, o comportamento de um pequeno grupo influencia outros grupos, levando a uma mudança generalizada de atitudes ou ações.

Isto se amplifica dentro das Câmaras de Eco, espaços onde as pessoas estão expostas principalmente a ideias, opiniões ou informações que confirmam suas próprias crenças. Em outras palavras, é como se estivessem "ecoando" as mesmas ideias dentro de um grupo ou comunidade, sem muita diversidade de perspectivas. As Câmaras de Eco podem criar "Bolhas", onde as pessoas estão cercadas por ideias semelhantes, e isso pode ter implicações na forma como percebem o mundo ao seu redor.

Atualmente podemos perceber que as redes sociais estão tomadas por estes fenômenos, que tendem a tornar as nossas opiniões mais extremas e a ficarmos mais agressivos, tendemos a pensar que gostamos daquilo que tudo mundo está gostando, quando na verdade, diante de um cenário de medo e insegurança, buscamos atenção, aprovação social, reconhecimento e popularidade. E aqueles que desejam ver sua posição prevalecer sobre as demais sabem sobre este comportamento humano e o usam para induzir nossas decisões.


Cena do Filme "Círculo" (2015)

No livro Ruído de Daniel Kahneman, após uma extensa pesquisa e apontamentos, ele demonstra como e porque as escolhas feitas pelos seres humanos são tão suscetíveis aos ruídos. Ou seja, pense em dois juízes que são capazes de dar sentenças diferentes a dois acusados que cometeram exatamente o mesmo crime. Estes mesmos juízes podem ser confrontados novamente com o mesmo crime e darem sentenças diferentes das primeiras.

O que gera esta diferença em julgamentos que deveriam ser idênticos, é o ruído ao qual estes seres humanos foram submetidos, os ruídos podem ser a opinião pública, a classe social em que estão inseridos, suas idades, seus gêneros, as suas vidas pessoais, um número infinito de variáveis.

Em última análise, o BBB oferece um olhar interessante para se explorar a relação entre a natureza humana individual e a influência da sociedade sobre ela. As interações complexas e as dinâmicas sociais dentro da casa mais vigiada do Brasil proporcionam um campo de estudo fascinante para examinar como a natureza humana e a sociedade se entrelaçam, moldando o comportamento individual e coletivo. É totalmente possível construir pensamento crítico sobre qualquer produto de massa, como um programa de televisão popular, pois é essencial entender o que consome a sociedade para entender ela própria.


FONTES:

• <https://pt.wikipedia.org/wiki/1984_(livro)> acesso em 16.01.2024;

• <https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_domin%C3%B3> acesso em 16.01.2024; • <https://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Kahneman> acesso em 16.01.2024; • Texto baseado no vídeo de Gabriela Prioli, apresentadora, advogada e professora <https://www.instagram.com/reel/C1-X4Aru_Ay/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==> acesso em 15.01.2024;


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